Se tivéssemos nascido no Vale do Silício, estaríamos mais do que acostumados ao não previsto, talvez ao improviso, mudança de mindset, ao erro, mesmo quando se tem certeza de que seria “o” sucesso aquele lançamento, perder dinheiro para ganhar muito depois e que o depois pode ser em uma hora, amanhã, assim como daqui meses.
Estaríamos prontos para sair dessa pandemia do novo coronavírus em modo acelerado e sem temer o risco, a inovação, ajustes, erros, assumindo que somos humanos e que até robôs erram, o que dirá nós, terráqueos! As novas gerações já vinham nos dizendo isso, as startups demonstrando, mas os jurássicos pensando: “Ah, esta garotada acha que é fácil ficar brincando de erro e acerto, queimando o dinheiro dos pais”.
Agora as novas crenças são que todos sairemos outros seres humanos, com outros valores, outros desejos, sustentáveis, consumindo muito menos, tudo online, renovado e nada revisitado. As mudanças e/ou análises que vem sendo propostas, inclusive no universo das franquias, é que estamos deixando o comando e o controle de lado, para a total horizontalização, que já era implantada na gestão por processos e total integração entre eles nas empresas que não usam a hierarquia como modelo de gestão.
Que está na hora de ouvir os clientes e confesso não saber quando esta ação não foi tratada como prioridade em treinamentos, capacitações, DNA de empresas, quando se falava em criação de produtos e serviços e nas vendas deles, na comunicação criada por agências, das mais simples às mais renomadas, até o mês passado. Que o perfil de franqueados deve ser o de pessoas adequadas ao negócio (atual), com propósitos e valores alinhados aos das marcas com as quais passarão a atuar, como se todas as marcas atuantes no franchising só tivessem expandido com seres que não consigo denominar ou definir.
Há inúmeros casos de franqueadores que só pensaram nas taxas de franquias e royalties que entrariam com as vendas de franquias, sabemos. E quebraram, ou sobreviveram, devido ao perfil dos franqueados ser de pessoas empreendedoras e honestas, em desalinho ao perfil ou caráter desses pseudo franqueadores.
Geração de valor, transparência, confiança, colaboração, compartilhamento, sustentabilidade, veracidade, people centric, tudo junto e misturado, sei que não é de massa e, sim ainda, exceções. Mas, não será assim, num estalo de dedos pós-pandemia, que tudo irá se transformar e que todos seremos 100% novos consumidores, gestores, empresários, empreendedores, ou seja, pessoas que nunca fomos.A essência tende a prevalecer, os mais profundos, analíticos e conscientes se manterão assim como novos conhecimentos e modo de pensar. Mas já agiam acima da média das pessoas menos conscientes ou responsáveis por suas ações e decisões. E há aqueles que precisarão sofrer muito dos impactos a que expostos para entender o que ainda está por acontecer.
Não devemos generalizar e criar webinars, mesas redondas e lives tratando a futura nova pessoa normal (que viverá o novo normal), como boiada virtual. Todos no mesmo corredor de ideias, cases e sugestões como se todos, que estão assistindo os conteúdos de como empreender, se reinventar, gerar novos clientes durante a pandemia, tivessem o mesmo histórico, as mesmas condições, as mesmas experiências, cultura, visão, acesso. E as chances ou barreiras têm sido sobre quem tem mais gigas, mais apps, mais acesso e quem não tem. A inclusão digital está me parecendo tão falha quanto a tão questionada e maltratada inclusão social.
Quem conseguiu fazer cheesecake e bolos, entrar para o iFood e Rappi, conseguiu mais clientes que antes da pandemia, quando estes canais eram proibitivos a esta mesma empreendedora, por estratégia deles e não porque ela não queria. O Uber entrou na hora de recessão e salvou inúmeras pessoas e famílias, inclusive de ex-diretores de empresas intercontinentais com CV brilhantes e que falam idiomas. Os taxistas sentiram muito o novo cenário, mas de alguma forma o mercado se adequou.
Inclusão digital aliada à inteligência emocional é uma grande oportunidade. Adaptação é a nova moeda, mas não é uma atitude, fundamental, “recém-inaugurada”. Desde sempre fomos expostos a situações que exigiram adaptabilidade. Hoje ela é premente para que possamos sobreviver, não apenas financeiramente, mas com saúde, usando novos hábitos como máscaras, distanciamento, álcool em gel, propés, lavar as mãos com sabão antes e depois de tocar algo que possa estar infectado. Aliás, evitar tocar qualquer coisa (infectável ou infectada) ou pessoa, para nós brasileiros pode-se considerar o maior castigo de todos! Portanto, a retomada pode ser mais ágil do que o previsto e melhor em alguns aspectos. Só não pode ser perigosa.
Vamos buscar priorizar, sendo o mais leve possível, simples, conscientes do que estamos ouvindo, lendo e de quem somos. Que adaptações são fundamentais e a que velocidade, com as habilidades que temos (soft skills) e que conhecimentos novos (hard skills) serão necessários.
Ouvi uma psicóloga fazer uma correlação interessante, em um webinar, que é como entrar em um quarto escuro, com olhos fechados, abri-los e não enxergar nada. Ficando lá por alguns minutos com os olhos abertos, nossa visão se acostuma e passamos a ver pouco, mas enxergamos algumas coisas. Estamos assim neste momento. Abra os olhos, permita que sua visão se adapte e passe a reconhecer onde você está, em que situação, posição, como pode sentir segurança – ainda que esteja muito escuro, o que você precisa para enxergar mais e melhor. Experimente, brinque que vai começar a fazer “isso ou aquilo” para sair dessa e arrisque, aprenda/fazendo e faça/aprendendo.
Estamos todos na mesma tempestade em barcos distintos, mas todos com o mesmo objetivo de enxergar oportunidades em meio a este caos, nos preocupando com o entorno e em buscas de respostas que não virão dos outros, mas de nós mesmos. E não temos quem culpar, dessa vez, que nossos olhos possam enxergar.
...