Hoje, 80% dos meus clientes ativos – redes de franquias – têm de 70% a 100% dos PDVs (pontos de venda) de seus franqueados fechados e que, da noite para o dia, tiveram suas receitas tendentes a zero, por conta da pandemia do novo coronavírus. Os boletos continuariam chegando e não sabiam quais seriam as negociações possíveis, o que seria isento ou suspenso e que teriam que se reinventar.

Quando alguém da família, o psicólogo, a psiquiatra, amigos ou algum guru diz que a gente precisa mudar, se reinventar ou mudar o mindset (super na moda há algum tempo), o que vem à mente é: hein? Como vou fazer isso de repente? Mesmo que, por anos, muitos de nós tenhamos ouvido isso, parece impossível.

E no franchising? De dezenas a milhares de unidades franqueadas que até ontem vendiam produtos e serviços de uma a três determinadas formas, passaram a não poder mais. E tiveram que se reinventar sem saber como, para quem, em que condições, a que custo e preço, se os clientes iriam querer e como chegaria às mãos deles, sem infectá-los. Não estou falando dos que já usavam o delivery, habituado às entregas, ainda que eles tenham se visto obrigados a rever processos e modus operandi.

De tempos em tempos criam-se jargões e frases mestras que, como uma boiada, todos devem seguir, acreditando ser o melhor caminho e o único correto. Empreendedores, executivos e equipes operacionais já tiveram que quebrar paradigmas quando inúmeros deles nem sabiam o que a palavra paradigma significava e não tiveram a curiosidade de consultar o dicionário.

Daí saíram quebrando o que poderia ser um ótimo modelo ou padrão. Posso contar, um dia, alguns momentos que vivenciei como palestrante, nesta época dos paradigmas, que ainda que fossem um problema às empresas foram hilários.

Depois disso, vieram vários outros, até que chegamos à era da inovação. E poucos entenderam que inovar trata-se de um processo, e não criatividade ou pensar fora da caixinha apenas, e nos deparamos com o “reinventar” empresas, rotina, literalmente o modus vivendi.

Nas crises sempre aparecem gurus aos montes! E com eles os oportunistas, sem dúvida. Mas, nestes momentos em que tudo parece estar perdido, há os que, passado o pânico, observam o cenário e o entorno, refletem, organizam suas ideias e pensamentos e conseguem quebrar os paradigmas que não servem mais, planejar, criar novos processos que os permitem inovar e aproveitar a oportunidade que surgiu. Isso não é oportunismo!

Por que uma rede que conserta roupas e sapatos não pode, ou não deve, produzir máscaras, dentro das regras definidas para proteção e vendê-las? Há costureiras que precisam do emprego que têm e franqueado precisando pagar todos os boletos.

Por que tirando os fabricantes de máscaras, que não estão dando conta de produzir e entregar a toda a população brasileira, temos que comprar apenas as máscaras importadas que estão chegando no Brasil? E todos que estão em casa ociosos, sabem costurar e têm suas rendas garantidas não podem ser os que fazem máscaras para doação?

Este é um exemplo que defendo: a oportunidade de reinventar o negócio, trazer receita para pagar os salários e não demitir, pagar as contas, isso significa fazer uso da oportunidade de trazer aos stakeholders valor agregado.

O que isso significa: fazer a compra e/ou uso de tecidos, elásticos, linhas e outros materiais, incluindo os que servem para embalagem, manter costureiras trabalhando, contratar entregadores ou levar pessoalmente, faz a engrenagem funcionar e envolve algumas empresas que estão vendendo a este franqueado, que produz e vende máscaras. E elas também se mantêm! A engrenagem se mantém, ainda que deficitária, sobrevivendo.

Restaurantes, lanchonetes, padarias e botecos que têm salão para consumidores se sentarem e comerem estão entregando e aprenderam a fazer parte do iFood, por exemplo, a portas fechadas. Oportunismo ou oportunidade de se manterem em pé?

Tenho participado do processo de criar oportunidades àqueles empresários que não querem apenas achar um responsável, cruzar os braços e darem como desculpa que “não havia o que fazer, mandei todo mundo embora, não vou pagar nada e, portanto, ajudarei outros tantos a passar fome, não ter como comprar um remédio sequer, nem aquietar seus corações” porque a culpa é do governo, do coronavírus, da falta de estrutura, mas jamais de quem só vê o lado ruim das coisas.

Podemos ser muito melhor que isso! Com senso humanitário, o franchising tem a força e pode ser a mola propulsora para mudarmos este cenário com atitude! Somos milhões de pessoas envolvidas em uma engrenagem que move boa parte da economia brasileira. Não é difícil identificar os oportunistas e bani-los, mas devemos incentivar os que trazem soluções a toda a cadeia de valor, incluindo os que podem comprar e os que podem doar.

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